Por Valquíria Vita
Quando eu morava em Pittsburg, uma das atrações do campus
onde eu estudava era o dia em que um lunático aparecia para profetizar
no meio da universidade. Era, literalmente, no meio, em um ponto
específico chamado de Oval — o que rendeu a ele o apelido de “O Maluco
do Oval”.
Pelo menos duas vezes por semestre, o Maluco do Oval
entrava no campus com seu visual todinho redneck (o que, no Kansas, é a
palavra para “caipira”), carregando suas placas escritas à mão. E lá ele
passava horas, gritando para quem quisesse escutar (e para quem não
quisesse) as mais distintas asneiras, desde frases conservadoras contra o
sexo antes do casamento, até opiniões pouco sensatas sobre aborto,
meninas que usavam shorts e jovens que bebiam em festas.
Falar mal de sexo e álcool para universitários norte-americanos era uma piada completa — já viu Vizinhos e American Pie?
É isso aí, os filmes são retratos fieis da realidade universitária por
lá (tenho três anos da minha juventude como testemunha).
Fica claro, portanto, que o Maluco do Oval era quase que
incentivado a continuar se manifestando, porque não importava o que ele
estava falando, qualquer que fosse a besteira, ele tinha plateia,
sempre.
Já faz um ano que tento me readaptar de volta ao Brasil. Um
ano que sequer escuto falar do Maluco do Oval. Porém, dia após dia, me
deparo com profetas, filósofos e palestrantes dos mais distintos
assuntos. Gente que dá opinião sobre absolutamente tudo! Eles se
escondem atrás de seus computadores e celulares, e, não importa o que
escrevem, sabem que serão lidos. Podem não ser curtidos, mas serão sempre lidos. Sim, falo deles: os polemizadores de Facebook.
Gente, como são chatos! A lista de polêmicas que é
discutida online é extensa, e vou evitar fatigá-los com exemplos,
porque, certamente, vocês acabam lendo sobre elas em seus feeds, mesmo
que não queiram. Já pensaram em quanto tempo do nosso dia perdemos lendo
coisas inúteis, polêmicas desnecessárias e afirmações absurdas? E em
como isso não é nada benéfico para ninguém?
Não entendo quando foi que as pessoas começaram a pensar que elas têm que dar opinião pública sobre todas as questões da existência humana.
Aqui na minha agência, há tempos temos dito que o Zuckerberg, além do
botão Curti, Amei e etc, deveria implementar o pragmático botão chamado Quem Te Perguntou?. Porque o Facebook, muitas vezes, parece um bando de lunáticos reunidos, jogando ali qualquer opinião, doa a quem doer, não importa se alguém está sequer interessado em saber.
A internet nos trouxe uma coisa linda e mágica, que há
alguns anos não existia, e que é justamente isto: a internet deu voz a
todo mundo! É incrível como isso pode ser tão bom e, ao mesmo tempo, tão
desagradável (já que foi a internet que nos fez perceber como as
pessoas podem ser muito malas).
Um professor meu lá de Pittsburg costumava dizer que, hoje em dia,
temos toda a informação disponível ao alcance de um clique e, mesmo
assim, muitos de nós preferem assistir a vídeos de gatinhos fofos no
YouTube. Vai ver que é por isso, né?!
Profetas, filósofos e polemizadores de Facebook: se eu
pudesse, eu faria o Roberto Justus (para não citar Donald Trump, porque
de haters eu já estou cheia) e demitiria todos vocês. Como não posso,
darei algumas sugestões. Da próxima vez que pensar em polemizar nas
redes sociais, faça algo mais útil e relaxante: assista a vídeos de
gatos, converse com seus cachorros, faça um bolo, aprenda jardinagem,
leia notícias (não é necessário opinar sobre elas), faça as unhas (que, aliás, é o que eu estou indo fazer agora, antes que esse texto comece a ficar polêmico demais).
Se nada disso adiantar, mentalize a frase dita no clássico desenho do Bambi (vou citar Disney para me despedir com classe): “Quando não tiver nada agradável a dizer, não diga nada!”
*Para quem, assim como eu, não aguenta mais opiniões sem
sentido, mas por motivos de força maior precisa continuar utilizando as
redes sociais, use à vontade (e sem medo) o botão “Deixar de Seguir”.
Texto original publicado aqui:
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