quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O primeiro tornado a gente nunca esquece


Eram umas dez e meia da noite e eu tava em casa com o Pedro e o Rafael. O Rafa tava vendo um filme e eu e o Pedro estávamos ouvindo musica. Ateh que começou uma espécie de tempestade de raios, muito muito estranha. E barulhos de trovoes, mas não trovoes a cada cinco minutos. Trovoes que não paravam (medo mode on). Sei la, eu comecei a achar aquilo tudo muito estranho, mas o Pedro soh dizia que não era nada. Ok. Ateh que o Rafa veio nos perguntar: “Voces tao ouvindo as sirenes?” (medo ON ON)

Pense em Silent Hill. Não sirenes de policia, mas sirenes constantes, que nem aquelas que tocam em Silent Hill. Quando a gente aprendeu na semana de orientação que essas sirenes espalhadas pela cidade alertavam pra tornados e tempestades a gente riu. Nunca achei que fosse ouvi-las de verdade.

Eu não moro no Campus, onde eles tem abrigos pra esses casos, e na minha casinha (que nunca antes me pareceu tao frágil), não tem porão. Nessas alturas já não tínhamos mais luz na casa, e, consequentemente, não tínhamos internet, então não tinha com saber o que estava acontecendo.

A primeira coisa que eu pensei foi “Vou ligar pra Natalia!”. Quando eu encontrei meu celular já tinha uma mensagem dela pedindo “Valquiriaaaaaaaaaaaaaaa tu ouviu as sirenes??”. Liguei pra ela e ela disse que ela e o Fabio estavam indo pra casa de um vizinho que tinha televisão. (depois eles me contaram que a TV mostrava um mapa e dizia quantos minutos faltava pro tornado atingir a cidade (!) e os ancoras ficavam dando alertas de NÃO SAIAM DE CASA.)

O Fernando, outro amigo meu brasileiro, também já tinha me ligado, pra ver se eu estava bem e dizendo que eu deveria ir pra um abrigo, que todos os alunos da PSU que ficam nos dormitórios estavam nos porões já.
Os meus vizinhos começaram a sair de casa correndo e entrar nos carros (medo ON ON ON). 

Eu comecei a pensar que pra momentos como esse a gente deveria ter um kit com as coisas mais importantes guardadas, tipo o passaporte e o nosso documento de imigracao, e falei isso pra Rafael, mas ele riu. Mas serio, vou fazer isso pro futuro (outra nota mental: ficar amiga de vizinhos que tenham abrigo).

As sirenes passaram e decidimos ficar em casa mesmo. Os amigos americanos do Pedro disseram que a o único problema seria se as sirenes tocassem de novo (!!). Não tocaram e o vento acalmou. Fiquei grudada no meu celular mandando mensagens pra um monte de amigos o tempo todo, enquanto a única luz da casa era de uma vela perfumada (nota mental: comprar uma lanterna).

Os guris foram fumar na sacada e eu tava tao puta com a falta de preocupação deles com o possível tornado que cheguei a imaginar os dois voando que nem aquela vaca no filme Twister. Mas isso não aconteceu.
O tornado (tornadinho, digamos assim) passou em outros pontos da cidade soh. Não pegou nada aqui da vizinhança e nada do Campus. Alguns prédios mais afastados foram danificados, tipo a academia e o prédio onde eu tenho ballet. E hoje eu vi umas casas destruidas por arvores gigantes.

De manha cedo tudo amanheceu calmo. Recebemos mensagem da universidade dizendo que o Campus estava fechado devido a forte tempestade e as aulas estavam canceladas pra essa quarta.

Demos uma volta na cidade hoje e tirei umas fotos. Vou coloca-las aqui. Esse link da CNN mostra outros pontos mais atingidos, porque passou pelo Missouri tb, não soh pelo Kansas. 12 pessoas morreram. Mas nenhuma aqui na cidade. 

http://www.cnn.com/2012/02/29/us/severe-weather/index.html






























terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Quando eu me tornei repórter nos Estados Unidos

Estou nos Estados Unidos ha quase dois meses e confesso que nao estou com vontade alguma de voltar pra minha vida antiga.

Quando eu penso que marco já esta começando, e logo depois vem abril e maio, e nos primeiros dias de junho eu já tenho que estar de volta chega a me dar uma tristeza antecipada. 

Sinceramente, antes de viajar eu jurava que ia ter noites aqui que eu ia afundar a cabeça no travesseiro e chorar de saudades de casa, ou chorar de medo de estar num pais novo sozinha. Eu ateh prometi pra mim mesma que se isso acontecesse, eu não ia ficar escrevendo coisas deprimentes no blog, porque seria muito egoísta da minha parte, depois de ter passado por tudo o que eu passei ateh chegar ateh aqui. Mas essa tristeza nunca veio e eu nunca precisei fazer esses posts.

Mas como dizem que a vida eh aquilo que acontece enquanto a gente esta fazendo planos, vou fingir que não estou percebendo o quão rápido o tempo esta passando e vou continuar aproveitando ao máximo tudo o que esta acontecendo aqui.

Há algumas semanas eu larguei uma das minhas disciplinas pra poder me dedicar mais ao jornal. Sim, imigracao, EU SEI, que eu disse no dia do visto que vinha pra America pra estudar apenas. Mas as coisas foram acontecendo. E eu estou trabalhando legalmente, antes que alguem ja pense alguma coisa. 

Bem, achei que fazia sentido largar uma, afinal eu vim aqui já sendo formada em jornalismo e valeria mais a pena passar mais tempo escrevendo matérias do que ouvindo um professor falar. De fato, foi a melhor decisão que tomei. 

Depois que fiquei com mais tempo comecei a fazer três matérias por semana no Collegio. Tem duas grandes vantagens nisso. Uma eh que eu recebo por matéria publicada e esse dinheiro que eu nem contava que ia receber vai me levar a Nova Iorque em maio. E a outra eh que o meu inglês melhorou demais nesse ultimo mês. Eu faco uma media de duas entrevistas, todos os dias. Já entrevistei pessoas que eu nunca imaginava que ia entrevistar. Em uma matéria pro Valentine’s Day, por exemplo, entrevistei um casal em que o guri faz parte do US Army e esta no Iraque, enquanto ela esta esperando ele aqui (sim, eu também me fiz a mesma pergunta, “mas ainda tem tropas no Iraque, Obama?”. aparentemente, sim).

O predio onde fica o jornal que eu trabalho


Os dias foram passando e hoje eu já consigo sentar na frente do computador com minhas anotações e, em menos de uma hora, consigo redigir uma matéria, sem nem precisar consultar as palavras num dicionário. A historia já vem pronta em inglês na minha cabeça. E pensar que antes de eu vir pra ca eu não me sentia segura nem em mandar um email em inglês.

No dia em que duas matérias minhas foram capa do jornal pela primeira vez, eu ri sozinha ao ver meu nome, Val Vita (aqui não sou Valquiria, porque esse nome, aparentemente eh impronunciável para os americanos).

Escrevo basicamente matérias relacionadas ao que acontece no campus, mas da pra descobrir umas coisas muito interessantes. Investiguei esses dias quanta comida vai fora no refeitório (aquele que a gente come ateh morrer) e descobri que 5.000 pounds de comida vao pro lixo toda semana. Meu editor, que eh frances, disse que um americano nunca teria tido essa ideia de pauta. 

O Gerard eh ótimo e, além de ser meu editor eh meu professor, e o mais exigente. A bio dele no Facebook resume tudo: “It's good, but it's not that good." Author: I think I said that. Quase consigo ouvir ele dizendo essa frase.

Fora do trabalho, tenho aulas de como escrever reportagens, reportagem avançada e a minha preferida, edição. Estou quebrando a cabeça, mas nunca aprendi tanto jornalismo como estou aprendendo esse semestre. Nas aulas de edição, por exemplo, a gente realmente aprende a ser um editor. O professor (o Gerard) da muito, muito tema, nos da leads complicados que temos que simplificar, textos com erros que temos que corrigir. Tambem estou tendo dicas de tecnicas de entrevista, entao as minhas fontes que se preparem, porque quando eu voltar eu vou tocar o terror. 

Minha cama em um domingo de manha

Percebi que em inglês ou português, a logica do jornalismo eh a mesma. O texto tem que ser claro e preciso, e sem qualquer erro gramatical. E o jornalista tem que se perguntar a toda hora o que o leitor precisa saber e o que não vai fazer diferença alguma na vida dele depois que ele ler a materia. Alem disso, estou aprendendo como capturar a atenção do leitor em três segundos, já que eh esse o tempo que demora pra ele decidir se continua a leitura ou vai pra próxima pagina.

Os dois livros que estao ensinando tudo o que preciso saber sobre jornalismo


Enfim, eh isso o que eu estou estudando, e estou amando, já que sempre fui apaixonada por textos.

Se interessar pra alguém, aqui estão os links das ultimas matérias que eu publiquei aqui. Talvez de pra perceber que o jeito de escrever aqui eh diferente. Eles nunca usam outro verbo a nao ser o say (dizer) pra se referir ao que uma fonte disse. Nunca usam afirmou, explicou, essas coisas. Cheguei a conclusao que faz sentido mesmo, o say eh o unico verbo que eh neutro. 










quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

‘Como vocês comem sopa?’ ‘Com a colher’

Depois de um período de afastamento tive vontade de voltar a escrever. Eu sempre tive raiva das pessoas que faziam intercambio e depois diziam que não conseguiam mais encontrar as palavras em português, mas confesso que esta sendo bem difícil encontrar as palavras certas pra fazer um texto.

Dito isso, precisei escrever aqui pra contar da minha Pitt Pal. Eles tem um programa aqui na universidade que se chama assim, e consiste em basicamente ajudar os alunos internacionais a se enturmarem na cultura norte americana. Porque digamos que os alunos americanos não falam muito com os alunos internacionais.

Entao o Pitt Pal de cada um leva essa pessoa pra passear, pra jantar, viajar, que seja. E eu tive uma sorte danada porque a minha eh uma guria muito legal. O nome dela eh Jakey e ela, de alguma forma muito estranha, eh parecida comigo e a gente se deu bem logo de inicio. 


Jakey


Na primeira vez que nos vimos ela e a irma, Emily, e a melhor amiga, Jacy, vieram me buscar e me levaram a Joplin. Joplin eh a maior cidade que tem perto daqui, a cidade que foi destruída pelo tornado em maio do ano passado. Demos umas voltas pela parte da cidade que ainda não foi reconstruída e eh surreal. 

Mas as pessoas daqui vao a Joplin porque tem mais coisas pra fazer. Entao passamos o dia la e jantamos. Naquela noite fui na minha primeira festa de fraternidade (as quais, eu soh vou comentar quando chegar no Brasil, porque meul deuls do ceu).

Jacy, eu, Jakey e Emily numa festa

Na outra vez que nos vimos fomos parar na casa de uns meninos da Arabia Saudita. (Tem muitos aqui, muitos). Gosto da Jakey, da Emily e da Jacy porque elas adoram tudo o que diz respeito a outros países. Chegamos e sentamos no chão (no começo eh divertido, mas chega uma hora que você precisa esticar as pernas desesperadamente).  Os guris nos serviram uns aperitivos e café árabe (deus me perdoe, mas a pior bebida que eu já tomei – e olha que to tomando coisas diferentes aqui nos eua hein).

Junto com o café da morte eles serviram muitos chocolates americanos, e isso foi muito engraçado, porque era um jantar árabe, mas ok. Antes da janta eles pediram a pergunta fatídica: o que vocês sabem sobre a arabia saudita? Holy shit. Eu vou saber o que? Tomei na cara neh, porque um dos meus últimos posts desse blog era sobre o que os outros (não) sabiam sobre o Brasil, mas eu não me dou conta que sei muito sobre os Estados Unidos e, sei la, países da America do Sul, talvez um pouco da Franca porque eu amo, mas neh, Arabia Saudida man??

Enfim. Descobri que os árabes tem quatro mulheres e isso eh tri. Tem gurias árabes aqui também, mas elas nunca poderiam participar desse tipo de confraternização. Quando começou a chegar perto da hora da comida a gente começou a pensar se íamos ter que comer com as mãos, pq eu vi isso na televisão e falei pra uma das americanas isso e ela riu e a gente tava tensa. Mas acabou sendo legal. Eles chegaram com pratões de um negocio de nome estranho (minha memoria eh algo), que eh arroz com frango basicamente. E comemos com as mãos. Enquanto a gente pegava com as pontinhas dos dedos, eles faziam bolas de arroz com as palmas das mãos e comiam. Foi estranho no começo, mas depois se acostuma.

Depois da janta veio A MELHOR parte, quando os guris árabes dançaram pra nos. Isso foi surreal. Acabou que depois das dancas deles, todo mundo acabou dançando coisas bizarras tipo Macarena e Hocky Pockey, porque neh gente, troca de culturas. Sei que eu ri tanto com isso que chegou uma hora que eu comecei a pensar que eles tinham colocado algo naquele café.

A janta foi tao legal que marcamos uma outra pro final de semana seguinte. Dessa vez eles vao nos ensinar a cozinhar! As americanas pensaram em fazer sopas pra eles (pq aqui se come muita sopa) e eu tive a brilhante ideia de perguntar pra um deles: Como vocês fazem pra comer sopa? (sim, pq, sem talher, tche, me pareceu uma pergunta racional). E um deles respondeu: Com a colher. Tchoin.

Com as gurias americanas no jantar dos Saudi

No mesmo final de semana queremos fazer um jantar brasileiro aqui em casa, pra que a Jakey, a Jacy e a Emily conhecam meus amigos e aprendam um pouco de português. Elas vao visitar o Brasil em dezembro e querem umas dicas também. Já disseram que querem ir pra Floresta Amazonica, gente qual eh a dessa tara dos outros países com a floresta que a maioria dos brasileiros nem conhece?

Essa semana posto de novo aqui soh pra contar sobre o jornal, porque to trabalhando demais, mas to conseguindo fazer a mesma quantidade de materias que eu fazia no Brasil e isso esta sendo grande coisa pra mim, afinal, comecei a trabalhar ha um mes.
=)