sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Voltando pra casa

Voltar pra casa depois de um intercambio eh uma experiencia punk. Voce acha que vai passar por varias coisas -  da euforia total ao abismo da depressao - mas no meu caso, por enquanto, a única fase que eu tenho vivido eh a da ‘cara de paisagem’. Talvez seja precipitado para escrever um texto assim, ja que to no Brasil ha apenas 10 dias. Mas a sensacao que eu tenho eh que ninguem consegue, e nem vai conseguir, entender tudo o que aconteceu e qual a sensacao de voltar para casa depois de tudo isso. Por isso eu aderi a cara de paisagem.

Ateh agora uma das minhas conversas mais úteis foi com o Jeferson, que me fez entender algo que eu estava tentando ha dias. Ele disse que leu um negocio sobre uma psicóloga especializada em depressao pos viagem (nao que eu esteja na depressao, muito pelo contrario, to ate umas dez vezes mais feliz do que eu era quando sai de Caxias). Mas entao, essa psicóloga dizia que o maior motivo pras pessoas ficarem tristes quando voltam de uma viagem dessas eh que as pessoas nao fazem pergunta alguma. Elas nao estao nem aih, nao querem saber. E eh isso o que eh difícil de aceitar sabe, quem passa um ano fora, que nem eu, ou um mes, que seja, como foi o caso do Jeferson, viveu muita coisa legal. Mas isso nao faz diferencia na vida das outras pessoas. E eh isso o que eu nao tinha entendido – e que agora to comecando a aceitar. Porque realmente, nao eh da obrigacao de ninguem se importar. Para mim, o que perguntam eh: “E o teu namorado?!”, ou entao “Tu ja tem um emprego em vista agora?”. Cara de paisagem para as duas perguntas.

Tudo melhora com o passar dos dias, isso eu aprendi. Nos primeiros eu achei que ia pirar sem estar em Pittsburg. E o panico comecou quando eu tava ainda no aeroporto de Nova Iorque, no inicio do mes. A questao eh que saimos de NY. NYC, o recinto da clase media alta brasileira, que passou as ferias enchendo o c* de compras na Times Square.

Eu, a Natalia e o Fabio estavamos bem tranquilos esperando no saguao do aeroporto, ateh que deu a hora do embarque. Foi a partir do portao de embarque que dava a Sao Paulo que o choque cultural – que nao eh um mito – comecou. Foi assim, instantaneo. No momento que cruzamos aquela porta, ninguem mais falava ingles. Era gente reclamando, crianca e pre adolescente brigando com os pais… O povo vestindo aquelas camisetas I <3 NY, as mulheres de salto alto, relogio dourado, exibindo aqueles cabeloes com reflexos, aquela coisa bem brega, que soh brasileira mesmo para achar que esta causando. E as pessoas nao paravam de falar!

Comecei a olhar pras saidas, nao to brincando, me deu calor, queria ir embora dali, voltar para calmaria do Kansas, onde todo mundo era amavel – e onde nos eramos os estudantes brasileiros de intercambio em Pittsburg – a partir daquele portao de embarque nos eramos apenas mais tres brasileiros naquela massa consumista que tava embarcando de volta para casa carregada de compras.

Quando entrei no aviao eu finalmente colapsed, como se diz. Acho que foi soh nesse momento que eu percebi que tinha acabado meu ano lindo (Meu ‘Comer, Rezar e Amar’, como eu costumo dizer – soh que sem a parte do rezar). Dai eu comecei a chorar. Muito. Aquelas lagrimas que saem com tanta forca que nao escorrem pelo rosto, mas jorram para frente, tipo chafariz. Cada vez que o piloto repetia ‘esse eh o voo tal, com destino a Sao Paulo’ eu chorava mais ainda. Nao tava nem aih pro aviao lotado, nao conhecia ninguem mesmo. Mas acho que a mulher do meu lado ficou preocupada e teve uma hora que ela finalmente perguntou: ‘tah tudo bem?’.

Parei de chorar mesmo mesmo quando cheguei no Brasil de manha. Quando pisei no aeroporto abafado de Guarulhos eu decidi que tava na hora de ficar feliz por estar indo para casa, encontrar meus pais depois de um ano. E foi sorrindo que eu disse ate bom dia prum cara do aeroporto, e tudo o que me respondeu de volta foi:

“TAH VINDO DAONDE?”
“Nova Iorque”
“AH, ENTAO PASSA AQUI NESSE CORREDOR”

De todo aquele povo cheio de compras, eu fui uma das paradas na alfandega. Logico. Passaram minhas malas no Raio X, e como la nao tinha nada, alem das minhas roupas e muitos moletons da universidade que eu comprei pra mim, me liberaram. 

Mas nem isso tirou meu sorriso. Cheguei no guiche da Gol e de novo insisti: “BOM DIA”. A mulher pegou meu passaporte e nao me respondeu. Foi ese o meu bem vinda ao Brasil. No voo da Gol de SP a Porto Alegre nao tinha comida, tinha que comprar - em reais, apenas. Soh tinhamos dolares. Ficamos sem comer. Obrigada, Gol, por pensar sempre nas pessoas que voltam de fora. 

Os dias melhoraram significavelmente depois disso. Foi bom voltar para casa, foi mesmo. E foi maravilhosa a ideia da minha mae em me levar passar uma semana em um lugar onde ninguem falava portugues: Canasvieiras, Florianopolis. Uma semana no sol e no mar, cercada de gente falando espanhol. 

Foi la que eu comecei a acreditar que tudo o que eu tinha que ter vivido em Pittsburg eu vivi. Sinto saudades diarias de pessoas que conviviam comigo, mas penso que ao inves de ficar triste eh mais facil ficar feliz por ter tido todas elas na minha vida, presentes todos os dias, por pelo menos um ano. 

Enquanto vou me desapegando da minha antiga vida, vou me acostumando com a minha nova. A Renata ajudou bastante, com seu tratamento de choque escrevendo sempre em Caps, MEU, TUA VIDA EH AQUI. 

Mais uma vez, nao faco ideia do que vai acontecer. Mas ja me vi nessa situacao tantas vezes nos últimos anos.. Prefiro, entao, acreditar que o melhor ainda esta por vir ;)

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