terça-feira, 12 de julho de 2016

Diminuindo as expectativas e se decepcionando muito menos

Por Valquíria Vita
valquiria.vita@gmail.com

Quando eu era repórter de jornal, tive que fazer uma pauta sobre índios. Li muito, pesquisei, assisti documentários, fiz de tudo para chegar na pauta super preparada para entrevistá-los. Fiquei sabendo de uma tribo perto da minha cidade e, com a maior empolgação que uma repórter de 22 anos poderia ter, fui até lá, bem feliz, com meu bloquinho e caneta.
Minha ideia era ver como viviam os índios hoje, conversar com eles e aprender algumas coisas que toda aquela pesquisa certamente não tinha me ensinado. Minha expectativa era alta, não vou negar. Me imaginava tipo Gloria Maria, quando se aventura por uma tribo ou uma região desconhecida, e sai de lá uma nova pessoa, com a alma renovada, feliz, com pinturas no rosto e tatuagens nos braços.
A realidade, claro, foi bem menos glamurosa. Chegando na tribo, me deparo com um carro. Um carro, gente. Não era exatamente o que eu esperava encontrar... De dentro do carro, emanava, em volume altíssimo, aquela música “Sexy Bitch”, do Akon e David Guetta — “nothing you can compare to your neighborhood hoe, I'm trying to find the words to describe this girl without being disrespectfuuuuul”...
Queria que o fotógrafo que me acompanhava tivesse tirado uma foto da minha cara naquele momento, porque certamente aquele seria o retrato da decepção. E eu teria revelado a foto e colocado na parede, para me lembrar de nunca mais elevar as expectativas tanto assim.
A a situação “carro de som” contribuiu para mostrar que a ideia que as pessoas ainda tinham sobre os índios não correspondia à realidade. Mas a maior lição que tirei daquilo tudo foi sobre altas expectativas.
Tenho observado algumas pessoas, que, assim como eu, são extremamente imaginativas, sonhadoras e, logicamente, vivem quebrando a cara. Sempre acham que a coisa vai ser muito mais emocionante do que ela realmente é. Isso deve ser mais comum em quem assiste bastante filme, só pode.
Outro dia, conversando com umas meninas na academia, falávamos de conhecidos que não víamos há tempos, e o papo era só “ah, fulana está decepcionado com a vida”, “fulano está meio deprê com a profissão…” Até que uma das meninas, super realística, disse: “Mas o que que esse povo achava que a vida ia ser? A vida é isso aí mesmo, pessoal!”. Achei essa simples frase de uma genialidade imensa.
Por uma série de motivos (sejam eles coisas que vemos nos filmes, nas séries ou algo que outras pessoas possam ter nos falado) temos uma expectativa altíssima em relação às coisas, ao futuro. Principalmente quando a gente está na escola e na faculdade. Meu deus, como a gente sonha quando está nessa época! Parece que, logo no dia seguinte à formatura, a vida se encarrega de te jogar na cara um balde tão grande de água fria, que algumas pessoas ficam até meio desnorteadas. 





O segredo é justamente não ficar desnorteado por muito tempo e se recuperar desse balde — e dos outros 2 mil que vão te jogar ao longo do tempo — e partir para a próxima. Qualquer que seja a sua expectativa, seja ela em relação ao trabalho, às amizades, ao namoro, à vida de solteiro... tudo aquilo que você imaginava que seria uma coisa fantástica, mas que, no dia a dia, se revelou ser bem menos do que isso… esteja preparado para algumas surpresas. E para aceitar diferentes realidades daquela que você esperava.  
Lembre sempre que, apesar do que as redes sociais podem estar mostrando, está todo mundo na mesma situação, todo mundo quebrando a cara frequentemente. E a vida é isso aí mesmo. Não é exatamente aquilo que te disseram que seria… Mas tudo bem! Não desanima, não. Quando você aceitar isso, vai estar mais preparado para enfrentar com bom humor tudo o que vier, até mesmo tribos indígenas ouvindo Sexy Bitch. 






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