quinta-feira, 26 de maio de 2016

Pressões Desnecessárias



Parem, apenas parem

Por Valquíria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br

No dia primeiro, vou completar 29 anos. Confesso que aos 10 anos de idade, eu imaginava que com essa idade eu e meu marido lindo já estaríamos tendo o nosso terceiro bebê. Bom, não rolou ainda — nem o marido. Mas rolaram muitos namorados e muitas viagens, e estou ok com isso. Fiz as pazes com minhas experiências da última década, muito diferentes (e mais divertidas) das planejadas precocemente, na época em que eu tinha franja e aparelho nos dentes.
O problema é que as pessoas do meu convívio não fizeram as pazes com essa mudança de rumo. E a proximidade (ressalto, “proximidade”, e não “chegada”) aos 30, estão fazendo com que as pessoas me cobrem coisas incabíveis. Se você é mulher, sabe de que cobrança estamos falando aqui. E eu quase não queria ter que escrever sobre ela em pleno ano 2016, porque é um assunto assim, tão… 1950. Chega a me dar uma dorzinha ter que fazer um texto sobre isso. Mas aí vai:
“Quando é que tu vai ter um bebê?”
Não consigo atravessar uma semana sem ouvir essa pergunta. Sempre que a escuto, adoto a cara de pastel — aquela cara tosca que faz você dar um sorrisinho forçado sem mostrar os dentes. E, depois disso, eu acabo ficando na bad e me pego pensando na falta de noção da pergunta, principalmente quando feita a uma pessoa solteira. Além do fato de que essa criança cresceria sem um pai (kind of a big deal), ela também cresceria com uma mãe que ainda não está com tempo (nem condições psicológicas) para assistir Discovery Kids 12 horas por dia (e não me diga que não é isso o que acontece quando você é mãe, porque eu convivo com várias mães e é isso aí, sim).
Por isso, venho através desse texto fazer somente um pedido sobre essa pressão desnecessária. Parem, apenas parem.
Após uma breve pesquisa de campo (leia-se, olhei para o lado e consultei meu sócio), concluí que essa pressão não ocorre apenas com os solteiros (RÁ!). Os casados sem filhos são cobrados disso a toda hora, desde os cumprimentos pelo casamento. E o pior: quando têm um bebê, eles respiram aliviados acreditando estarem livres dessa pressão da sociedade, e é justamente aí que mora o perigo, porque uma pergunta ainda mais tensa começa a ser feita: “E quando vão ter outro filho?”
Essa semana, uma de minhas entrevistadas me disse que a filosofia dela era simples: “Viva e deixe os outros viverem”. Quando ela falou isso, eu tive vontade de levantar e dar um abraço nela. Porque é nisso que eu acredito totalmente.
Se você quis ter filhos jovem, que bom, ótimo para você! Se não, não cabe a ninguém o direito de te cobrar por isso. Se você quer casar, legal. Se só quer ir morar junto com o seu namorado (ou sua namorada, ou com os dois!), super ok também. Se quiser fazer dieta, faça. Se não quiser, tudo bem, abrace suas gordurinhas e seja feliz. Gosta de malhar? Parabéns! Não gosta? Não tem problema. Gosta de fumar? Fuma aí e não deixa ninguém encher o teu saco por causa isso.
Essa loucura de “tem que casar”, “tem que ter filho”, “tem que correr 5km às 6h da manhã”, “tem que ser saudável e magro”, “tem que sair no sábado à noite”, “tem que ganhar bem” e tantos outros “tem que” causa uma fadiga muito desnecessária — e uma sensação de que por mais que você esteja fazendo o que os outros esperam que você faça, você nunca está fazendo o suficiente.
Como já bem diria meu pai “tem que nada; tem que morrer, e só!”
Viva como você quiser viver e deixe os outros fazerem o mesmo. É tão curta a vida para a gente tentar ficar vivendo conforme as expectativas das outras pessoas…
Cada um tem que saber lidar com as consequências das suas escolhas — porque nós sabemos que elas vêm, elas sempre vêm. Mas o importante aqui, mais do que as consequências, é ter a certeza de que essas escolhas estão sendo suas. E somente suas.





Texto original publicado no blog da Level Cult: 

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