segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A carta que a gente nunca mais abriu

Em 2010 eu e quatro amigos resolvemos escrever uma carta juntos. Na verdade, éramos em dois casais e um amigo. Combinamos de abrir a carta em janeiro de 2011, um ano depois, todos juntos, frase inclusive que foi escrita no envelope selado em que guardamos a carta. 

Nela, cada um dizia o que esperava pro futuro, tipo resoluções - na época, todos ainda na universidade devem ter desejado algo relacionado às futuras carreiras, não lembro, e não posso abrir a carta sozinha para relembrar para não descumprir o combinado 'todos juntos'. Hoje, acho que se fossemos escrever a mesma carta já desejaríamos coisas diferentes - eu sei que eu, pelo menos, faria isso. 

A carta ainda não foi aberta. Está guardada desde 2010 no fundo de uma gaveta do meu quarto de Caxias (pelo menos alguma coisa permaneceu no mesmo lugar, já que eu, por outro lado, saí de Caxias para morar em cinco casas diferentes do Kansas, depois em Porto Alegre e depois de volta pra Caxias - cansei só de lembrar).

Mas então. Depois daquele verão em Arroio do Sal em que escrevemos a carta naquela noite, nunca mais tivemos outra chance para reunir os cinco novamente. Os dois casais se separaram. Hoje, nenhum dos quatro, aliás, mora na mesma cidade do ex, e isso dificultou bastante. 

Muita coisa acabou acontecendo com todo mundo (e deus sabe quanta coisa cabe nesse 'muita') e impediu que a tal da carta fosse aberta.

Ontem, quando um desses amigos estava aqui em casa e acabou enxergando o envelope, ele lembrou que 'vamos ter que abrir essa carta agora só em 2015', porque ele sabe que não vou estar nos próximos anos. 

Mais uma vez, a leitura dela foi adiada. Mais uma vez, adiada pelos acontecimentos que ninguém previa. E quem sabe se, mesmo em 2015, isso vai ser possível?

Fiquei pensando em como todos os eventos das nossas vidas conseguem distanciar pessoas que eram muito próximas (e, ao mesmo tempo, unir outras ainda mais). 

Em como o surgimento de um problema realmente sério pode reforçar o sentido das amizades. 

E em como não podemos nunca contar com 'o ano que vem', nem o mês que vem e nem mesmo com o dia seguinte. A imprevisibilidade da vida não nos permite fazer isso. (Pena que leva um tempo até a gente perceber isso). 

E, bom, quanto à carta, talvez um dia ela seja aberta. Quem sabe, né?

Um comentário:

  1. por isso que eu vivo o hoje. esqueço o passado e nem tento pensar no futuro. a vida é agora =*

    p.s.: morro de curiosidade de saber o que escrevi nessa carta em 2010.

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