segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Síndrome do Regresso_O impacto de voltar para casa depois do intercâmbio

Pode parecer loucura, mas a experiência de voltar para casa depois do intercâmbio pode ser tão intensa quanto foi a de sair de casa para viajar. Intensa, infelizmente, neste caso, não necessariamente significa boa.
O problema é tão sério que já está sendo chamado de Síndrome do Regresso. Sabe-se que enquanto o período para se adaptar em um novo país é de seis meses, o tempo para se reacostumar com o país de origem pode levar até dois anos. Mas calma. Eu superei essa síndrome bravamente duas vezes (em menos de dois anos), e, assim como eu, milhares e milhares de jovens brasileiros que tiveram de retornar às suas casas também sucederam.
Existe uma teoria, chamada Cultural Adjustment Curve, que explica que quando um intercambista chega no país novo ele passa por vários altos e baixos. O curioso é que o mesmo gráfico se aplica na volta para casa, afinal, você está se readaptando a uma cultura (mesmo que seja uma que você antes já conhecia e dominava). O mesmo processo ocorre da seguinte forma: primeiro a excitação, aquela fase em que você está muito empolgado para rever família, amigos, cachorros e comer a comida da sua mãe. Depois que o sentimento excitante da novidade passa, no entanto, começa a queda, a sensação de “ok, não quero mais brincar disso, posso voltar para os EUA agora?”. Os amigos já voltaram a estar ocupados e, em casa, já nem fazem comida tão especial assim para você.
Mas toda a queda tem um final, certo? Depois de atingir o “rock bottom”, como dizem os americanos, a tendência é que se inicie uma subida, e você, aos poucos, vai se reacostumando, vamos dizer, com a vida antiga.
O segredo é não entrar em desespero e não esquecer uma premissa muito importante (premissa, alías, que você pode levar para a vida em geral, na minha opinião): “Life only moves forward”, ou seja, a vida só anda para frente. Por mais linda e fantástica que foi sua experiência de morar fora, não faz sentido se apegar a ela a ponto de não conseguir tocar a sua vida de volta a seu país de origem.
Pense em voltar para casa como apenas mais um dos desafios do processo (que, como sabemos, os desafios começaram lá quando você estava tentanto empacotar sua vida em duas malas para vajar - ninguém disse que eles terminariam quando você voltasse pra casa e abrisse as malas).
O intercâmbio não acaba quando você volta para casa. Por meses (para algumas pessoas, anos) as lembranças daquele país vão acompanhá-la muito intensamente no seu novo dia a dia no Brasil. Algumas coisas que não te irritavam antes, na volta para casa começam a irritar, outras, não parecem mais ter tanta graça quanto tinham antes de você viajar.
Três coisas me incomodaram quando voltei para casa. A primeira delas foi a sensação de que eu havia perdido muita coisa. Alguns amigos tinham casado, outros tiveram bebês, minha prima cresceu e começou a falar. De alguma forma, eu me sentia injustiçada por ter perdido esses acontecimentos, mesmo sabendo que seria impossível ter estado lá e aqui ao mesmo tempo.
A segunda coisa que me incomodou foi justamente o sentimento contrário deste: a sensação de que tudo continuava exatamente igual. Percebia que minha família brigava pelos mesmos problemas que brigava antes (meus pais discutem diariamente pelo prato de salada há anos), que meus amigos conversavam sobre os mesmos assuntos, que os jornais davam as mesmas notícias sobre os mesmos problemas das mesmas ruas da mesma cidade. E, dentro de mim, tanta coisa tinha mudado que era muito difícil lidar com o fato de que isso não tinha acontecido com mais ninguém do meu convívio.
Finalmente, o mais difícil de lidar foi o fato de que ninguém realmente parecia se importar. Explico: desembarquei no Brasil pela primeira vez em 2013 emocionadíssima, cheia de novidades e histórias pra contar, além de muitas fotos para mostrar. E aqui, ninguém me perguntava quase nada! Quando perguntavam, era um “eai, como foi lá?”, uma pergunta tão vaga que um “foi bem legal” bastava para suprir a questão que provavelmente havia sido feita apenas por educação. Eu sentia como se tivesse tido uma vida totalmente diferente nos Estados Unidos, como se lá eu tivesse sido uma outra pessoa, e, chegando aqui, eu tive que dar tchau não apenas para o país americano mas também para aquela pessoa (que era uma pessoa bem legal, aliás). E isso doeu muito.
Sem saber lidar com todas essas frustrações, minha saída foi manter longos períodos de silêncio (e quem me conhece sabe o quanto isso é raro). Como eu sentia que quase ninguém se importava muito, eu comecei a parar de falar do intercâmbio. E durante vários encontros sociais eu adotava a cara de paisagem e nada falava. MInha mente, no entanto, nunca estava presente. Continuei chateada por vários meses com as pessoas por não se importarem com o que eu tinha vivido. E aqui, meus queridos leitores, é a parte que eu digo que eu não soube lidar bem enquanto passava pela Síndrome do Regresso. Porque esses sentimentos ruins só faziam mal a mim. E eu cheguei a passar por dias de tristeza e nostalgia tão intensas que comecei a pensar que não queria ter feito aquela viagem, só pra não ter que encarar tamanha fossa depois. Sim, hoje eu vejo que isso foi um sentimento covarde, tão covarde e estúpido quanto não querer se apaixonar por medo de se machucar no final do relacionamento.
Mas antes que você comece a pensar que a situação é pior do que realmente é, apresso-me a escrever que na segunda vez que voltei para casa do intercâmbio (já mais velha e sabendo o que me aguardava), em 2015, desembarquei de volta a Porto Alegre sem pretensão alguma. Apenas tinha dentro de mim a certeza de que havia vivido tudo o que queria viver, que havia feito amizades maravilhosas e visto lugares incríveis. E que isso realmente não importava a ninguém mais que não a mim.
Então a segunda volta foi linda e perfeita? Não. Mas aceitando algumas verdades (e diminuindo algumas expectativas em relação às pessoas), ficou muito mais fácil encarar a nova vida de volta para casa. E aqui, peço licença para citar Phil Dunphy, o personagem de uma série que adoro, Modern Family: “As coisas mais maravilhosas vão acontecer com você. Se você apenas baixar suas expectativas.”
Brincadeiras à parte, minha segunda volta foi muito, mas muito, mais tranquila (e bem menos triste). Passei apenas algumas noites sonhando com Pittsburg e acordando decepcionada por ter sido só um sonho, mas os pesadelos foram diminuindo gradativamente, assim como o sentimento ruim que os acompanhava.
O importante, intercambistas, é saber que é absolutamente normal levar um certo choque ao voltar para casa depois de uma viagem. Afinal, você passou por um período vivendo coisas extremamente diferentes das que estava acostumado, com outras pessoas, outro lugar, outra comida, outro clima, outra língua! O estranho seria se não houvesse um choque, né?

Portanto aí vão algumas dicas simples que podem te ajudar neste momento:

Número 1. Ocupe-se. Uma rotina agitada faz toda a diferença.
Número 2. Se mesmo depois de muitos meses de fossa, você ainda sentir que quer voltar (e tiver condições para isso), volte. Eu fiz isso e acabei tendo uma segunda experiência nos EUA ainda melhor que a primeira. Mas mantenha em mente um detalhe muito importante: você nunca viverá a mesma coisa duas vezes. No segundo intercâmbio, as pessoas serão outras e as vivências também. Just keep that in mind.
Número 3. “Saudade é o imposto que a vida cobra de quem foi muito feliz durante um determinado momento”, dizem. Eu hoje tenho nas fotos espalhadas pelo meu quarto (e em uma tatuagem no braço) o quanto fui feliz nas duas viagens para fora do Brasil. 
Só esse sentimento é suficiente para me fazer sentir gratidão até mesmo nos dias em que estou mais desanimada. Isso não é viver de passado, mas sim saber que todas as experiências que passei fizeram com que eu me tornasse uma pessoa muito mais feliz (e corajosa). E isso, pra mim, até hoje, faz toda a diferença.



Galera de Pittsburg que voltou para seus respectivos países em Maio deste ano, assim como eu. 




Se você por acaso já passou por algo semelhante ao que descrevi, caiu nesse blog por acaso, gostaria de compartilhar a tua história também, ou só quer dar um oi, me escreve (valquiria.vita@gmail.com), que o teu relato pode ajudar na pesquisa que estou fazendo sobre intercambistas =) 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

LADO B - LUIZ CARLOS DE LUCENA

Por Valquiria Vita


Aos 73 anos, Luiz Carlos de Lucena prova que “viver em paz com todos” é sempre a melhor alternativa 

       Algumas pessoas têm a sorte de olhar para o passado e não sentir arrependimento algum. Luiz Carlos de Lucena é uma delas.
    “Eu faria tudo de novo, sem mexer” diz, aos 73 anos de idade, esbanjando histórias e deixando claro que ainda pretende ser protagonista de muitas outras. 
   Já que “escrever é viver duas vezes”, como ele mesmo diz, Lucena acumula em sua trajetória cinco livros publicados. “E a gente só escreve o que viveu”, diz. “Escrever é uma terapia, evita que tu penses bobagens.” 
      Lucena também adora conversar. É daqueles que não consegue ir para a rua sem encontrar um conhecido e parar por uns minutos para bater um papo. E, como todo bom tradicionalista, adora contar um bom causo. Em sua obra mais recente, “Apaguei a Luz do Vagalume”, ele conta vários. A natureza é personagem atuante nos seus textos e retratada de forma peculiar pelo autor, como nas primeiras páginas do livro, que dizem que “vestindo pijama pontilhado pelo brilho das estrelas, o sol prepara-se para o descanso da noite no berço do universo.”
     Tanta intimidade com a natureza tem origem na infância, vivida em Cazuza Ferreira, no 3° Distrito de São Francisco de Paula, ao lado dos três irmãos. Na época, uma das atividades preferidas de Lucena era fazer incursões na mata (que hoje, lembra ele, infelizmente, já não existe mais). Nessas expedições, Lucena recolhia vagalumes e os aprisionava em um pote de vidro, só para levá-los para casa e lá ficar a observar seu “incansável acende e apaga.” Sua mãe, Hilda, ao descobrir os vagalumes trancafiados, obrigou o filho a devolvê-los ao mato, originando, com isso, o título do livro que o guri escreveria muitas décadas mais tarde. 
     Hoje, Dona Hilda ficaria orgulhosa do filho, que, além dos livros, também contabiliza 30 anos como jornalista e 30 anos como assessor de relações institucionais. 
     Tudo começou quando Lucena, ainda piá, declamava uma poesia em um CTG em Canela, na época em que estava se iniciando o Movimento Tradicionalista Gaúcho no Estado. A boa oratória chamou a atenção do professor e locutor Elzaide Ramos, que o convidou para trabalhar na Rádio Clube de Canela. Depois disso, Lucena mudou-se para Caxias, em 1957, após ser selecionado para a vaga de radialista na Rádio Caxias. “Todo mundo começou na rádio Caxias,” conta ele. 
E, de Caxias do Sul, ele nunca mais saiu. Após apresentar diversos programas na rádio e tornar-se uma voz familiar na comunidade, Lucena ingressou na TV Caxias, Canal 8, tornando-se, também, um rosto familiar da comunidade. 
      Dos Anos 60 aos Anos 80, ele passou pelos cargos de locutor de cabine, chefe do departamento de pessoal, gerente comercial/executivo e apresentador do Jornal Hoje. Nos seus anos de televisão, Lucena colecionou memórias incríveis, como a de estar presente na implantação e realização da primeira transmissão de tevê à cores no Brasil, nos Anos 70, quando todos os olhos do país se voltaram a Caxias do Sul. 
     Após ter trabalhado em rádio e em televisão, Lucena passou a integrar a equipe do Jornal Pioneiro, onde escreveu semanalmente a coluna “Indústria e Comércio”. Depois, coordenou a UCS TV, Canal 15. 
    Além de todas essas funções, Lucena, com personalidade volátil e energia inesgotável, também prestou serviços de vendas em diversas empresas e fundou uma corretora de seguros, uma granja, uma empresa de embalagens e uma editora. 
    “Tu fizeste bastante coisa, hein?” pergunto. 
    “Mas com 73 anos... tem que ter feito, né?” responde ele. “É assim… Minha vida é dividida em dois ciclos: 30 anos em rádio, TV e jornal, e os próximos 30 anos na Visate (Viação Santa Tereza), onde sou assessor de relações institucionais até hoje,” diz Lucena, que agora é conhecido por muitos justamente como “O Lucena da Visate”. “Depois de ser jornalista, fui para o outro lado da mesa e uma atividade somou muito para a outra. Agradeço muito aos colegas do rádio, jornal e TV porque eles sempre mantiveram a parceria desde que eu fui para o lado institucional.”
    Lucena iniciou o trabalho da Visate juntamente com a criação da empresa, o que justifica seu comprometimento 30 anos depois. “E eu pretendo ainda trabalhar muito, enquanto a saúde me ajudar e eu puder ajudar a empresa,” diz ele, sobre seus planos. 
   Sua intensa atuação na cidade rendeu-lhe o título de Cidadão Caxiense e o troféu Associação Riograndense de Imprensa, ARI Serra Gaúcha. 
   “E a fruta não cai longe do pé,” conta a filha mais velha, Fabiana de Lucena, que decidiu ser jornalista apesar de os conselhos do pai para que não seguisse a mesma carreira (de muito trabalho e pouca valorização). “Mas eu ia na TV Caxias na época em que ele trabalhava lá, assistia ao Jornal do Almoço de uma janelinha que dava pra ver o estúdio e eu pensava ‘é isso o que eu quero fazer’,” diz Fabiana, hoje jornalista da prefeitura. 
     Para ela, o pai não é somente exemplo de profissão, mas também exemplo de como levar a vida. “Ele sempre levou a vida muito numa boa. Absolutamente nada tira ele de sério,” conta Fabiana. “E ele fez muitas amizades ao longo da trajetória de vida, amizades que ele valoriza muito.”
     Lucena também valoriza imensamente a família. Diz que considera os filhos “uma dádiva de sequência da vida, a continuidade da espécie, do clã.” Fabiana, Renata, Cláudia e Tiago são frutos do casamento de Lucena com Maria Helena, que durou 32 anos. “Os momentos mais felizes da minha vida foram os nascimentos de cada um dos meus filhos. Inclusive fui privilegiado com gêmeas, ou seja, dois nascimentos em questão de minutos,” diz o comunicador que já tem cinco netos, Bernardo, Clarissa, Henrique, Flávia e Laura. 


     Além de passar tempo com a família, a escrita também está entre seus lazeres. É a companheira, Eliana Casagrande (juntos há 15 anos), que o mais incentiva a escrever e publicar. Além de “Apaguei a Luz do Vagalume”, Lucena, membro da Academia Caxiense de Letras, também publicou “Do Meu Jeito”, “Do Meu Tempo”, “No Aconchego dos Meus Pelegos” e “Onde Amarrei Meu Peixe”. “Desse relacionamento (com Eliana), nasceram esses cinco livros,” brinca o escritor. 
      Lucena também se diverte com outras atividades, entre eles “comer no restaurante Danúbio e tomar minha aguinha batento terra com os amigos.” Ele e Eliana também gostam muito de viajar. “Ele tem um pé que é um leque,” diz a filha, Fabiana. 
      De menino do CTG com aptidão para falar em público a um dos mais conhecidos nomes da comunicação caxiense, Lucena diz que segue uma filosofia de vida muito simples: “Levar a vida com lealdade, simplicidade e humildade, preservando a família e os amigos e vivendo em paz com todos é o melhor que se tem.”



Perfil publicado no Lado B da Revista Acontece Sul _ Julho 2015. Link original aqui. 



sexta-feira, 12 de junho de 2015

Por que o Dia dos Namorados não deve ser uma guerra

Há muito tempo já que me incomoda entrar nas redes sociais no dia 12 de Junho. Isso porque o que se passa nesse dia fatídico é uma verdadeira guerra desnecessária.

Já estive dos dois lados (várias vezes), ou seja, já passei Dia dos Namorados namorando e já passei Dia dos Namorados solteira. Enfim, todos sabemos que os dois lados, estar solteiro ou estar namorando, trazem suas felicidades e suas tristezas.

Estar namorando ou estar solteiro são escolhas. Ou então são resultados das suas boas (ou más) escolhas, em ambos os casos.

O que me incomoda, dito isso, é a necessidade de os casais tentarem provar que estão muito apaixonados e a igual necessidade dos solteiros de provar que do lado deles está tudo uma maravilha também.

Por exemplo. Li um post no Facebook que dizia assim: "basta um print de Whatsapp pra muita gente ficar sem presente nesse dia 12 de Junho". Sim, basta um print, mas né... que maldade. Por que você faria isso?

Do lado dos seus amigos que namoram, você é bombardeado de fotos de buquês de rosas e hashtags clamando "um ano de felicidade". Gente. Tanto você quanto eu sabemos que é humanamente impossível que você só tenha sentido felicidade nesse um ano inteiro.

O Dia 12 de Junho é pra ser lindo. Não deve ser uma guerra. 

Abrace as suas escolhas e sinta-se feliz na situação que você está hoje (situação que você não precisa provar pra ninguém fazendo posts).


..


Pra quem está na irritação nessa sexta-feira, você pode sempre fingir que está nos EUA e mandar vibrações de amor pra todos os amigos, como eles fazem lá em fevereiro no Valentines Day.

Hoje eu acordei assim, nesse bom humor, e mandei mensagem de Feliz Dia dos Namorados para os meus amigos solteiros. Nem todos receberam com o mesmo entusiasmo, como fica claro nesse print.




Amo meus amigos!
Casado ou solteiro, aproveite esse dia com bom humor. Feliz 12 de Junho pra todo mundo =)


terça-feira, 2 de junho de 2015

O que te irrita e o que te anima quando você volta ao Brasil

Depois de alguns dias de volta dos Estados Unidos para o Brasil, decidi listar algumas coisas que tenho sentido aqui. Nada de drama nem nada, só algumas coisas que são super comuns para as pessoas que moram aqui, mas que para quem passou um tempão longe causam um certo choque. 


5 coisas que te irritam: 

1. O preço das coisas. Todas as coisas. O fato que custa 51 centavos pra mandar uma mensagem de texto. Assim... se eu continuasse mandando aqui a mesma quantidade de torpedos que mandava (de graça) quando estava nos EUA, eu gastaria muito, mas muito dinheiro em conta de celular. Eu não entendia porque esse povo do Brasil gostava tanto de Whatsapp, mas agora tudo faz sentido pra mim =D 

2. O trânsito. Juro pra vocês que tive palpitações no trânsito de Caxias hoje. Quando você sai de uma cidade que só tem plantação, UMA rua principal, e dois ou três carros andando nela, e você vai pra Sinimbu durante a tarde, é assim... meu Deus, me tire daqui agora. 

3. A burocracia. Pra tudo. Fiz um plano de saúde que só vai valer pra aqui um mês e uma conta de celular da Vivo que vai demorar 15 dias pra ser ativada. 15 dias, gente. Vivo é sempre exemplo de agilidade not. 

4. O tamanho das bebidas. São tão pequetitas! E nenhum garçom serve o teu copo de refri muitas e muitas vezes. Eles te dão um refri de garrafinha e um copinho de vidro de tamanho  ridículo. E deu. E você fica, ué, cadê? Tô com sede psicológica desde que cheguei. Quero copos gigantes, cheios de gelo, e com refill ilimitado. 

5. O frio que nem é frio. Faz 10 graus aqui em Caxias e já estão fazendo oooo drama. Gente, 10 graus positivos lá em Pittsburg e a gente tava feliz demais!


Coisas que te animam:

1. Como te abraçam e te beijam aqui. Os americanos não são exatamente pessoas que gostam de se encostar. Já os brasileiros... Em 5 dias no Brasil já recebi cota de abraço pros 3 anos nos EUA.

2. A comida! O fato que tem carne de verdade todo dia e as maravilhas que você encontra numa padaria! EUA só conhece frango, donuts e brownies, é uma depressão. Aqui é uma variedade maravilhosa.

3. Saber que você está na sua terra, no seu país, e que você não vai mais ser tratado como o estudante estrangeiro que fala com sotaque. Aqui você é só uma pessoa igual as outras e isso é surpreendentemente bom.

4. Ver todos os seus amigos de novo, e inclusive conhecer os bebês dos seus amigos que nasceram enquanto você estava fora. 

5. E por último, porém o mais importante de todos: rever toda a sua família, ver que todo mundo continua falando junto, gritando, te beijando, te xingando e te amando, tudo ao mesmo tempo. E rir ao perceber que tudo continua absolutamente igual a quando você saiu. 


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Dissertação de mestrado: você também pode sobreviver a essas 7 fases

          Tem coisas que você termina e não sabe como. Só sabe que você termina e nada mais importa depois que isso acontece. Até hoje, por exemplo, eu não sei como tirei carteira de motorista. Em nenhuma das aulas da auto-escola eu consegui fazer aquela baliza e estacionar o carro direitinho entre duas vagas. No dia da prova prática ninguém realmente acreditava que eu ia passar (nem mesmo minha instrutora.. me lembro da cara dela até hoje). Eu, especialmente, não acreditava que ia passar. Com todas as chances contra mim e minha (falta de) habilidade como motorista, eu fiz a prova. E o carro, como por milagre, encaixou direitinho. Passei.  Só o que importava depois disso era o sentimento de ter conseguido passar por isso.







          Algumas coisas, até mesmo coisas que você achava que poderiam ser impossíveis, às vezes, acabam terminando bem. Esse ano, meu exemplo disso foi minha dissertação de mestrado. Sempre achei muito chato aquela galera que ficava se queixando no Facebook sobre o quanto era cansativo escrever uma dissertação. Tudo o que eu pensava era que ninguém é obrigado.. se você foi lesado o suficiente pra entrar numa loucura dessas.. dê um jeito de sair dela com dignidade e sem reclamar. 
          Só que óbvio que quando eu estava fazendo a minha dissertação eu cheguei ao ponto que estava reclamando também, e a sentir que passar por isso seria uma tarefa tão improvável quanto a de ter estacionado aquele carro na auto-escola. 
          A Joy, uma amiga de Taiwan que ficou muito próxima porque também estava passando por isso com a dissertação dela, sempre me fazia rir quando refletíamos sobre o porque de termos escolhido fazer isso. Aqui nos Estados Unidos não é como no Brasil, onde você TEM que fazer a dissertação (e aqui eles chamam de thesis, não dissertation). Eu tive três opções (as outras duas eram MUITO mais fáceis), e por algum motivo psicológico, necessidade de superação pessoal (não sabemos bem pq, já que somos Communication major e não Psychology major), eu e a Joy escolhemos a opção da dissertação.
          Durante uma das semanas finais de desespero, a Joy fez a perfeita comparação: escrever uma dissertação (ou uma tese, como queiram), é como esquiar pela primeira vez. No meio do caminho você empaca e você entra em desespero. "Mas eu tenho que continuar esquiando até chegar no final! Não há outra opção" você pensa. 
          E foi isso o que fizemos. E chegamos no final. Não sem antes passar pelas seguintes fases:

1. O começo: a fase que ninguém acredita muito na sua pesquisa. Ralei muito até fazer todo mundo acreditar que o Facebook era do mal e deveria ser estudado. 

2. A fase "nossa, tem muito tempo ainda até a data da entrega": vamos relaxar aqui e ver um Netflix (comecei e terminei 3 seriados diferentes nessa fase).

3. O começo do fim: "Meu Deus, Joy, faltam 16 dias para a data entrega". 

4. Palpitações-choro-fuck this shit: Essa é a fase que vai depender de cada pessoa: um professor me disse que teve palpitações e teve que ir para o hospital (eu ri na época, mas depois acreditei que é super possível isso), uma amiga (que não posso contar quem) tinha crises de choro antes de dormir, e eu, nessa etapa, já estava na fase "agora seja o que deus quiser". 

5. A última semana: depois de ter passado mais tempo na biblioteca do que no seu próprio apartamento o semestre todo, você quer fazer QUALQUER coisa que não seja escrever sua tese. Eu passei por momentos que ficava vários minutos encarando a parede da biblioteca aqui da Pitt State, só porque até isso era mais legal. Eu olhava pro chão de carpete e pensava, eu quero deitar aqui, agora, e dormir (minha mãe ficou com muita pena de mim quando eu estava nessa fase). Nessa fase também parei de fazer as unhas, porque não tinha mais tempo nem disposição. E cogitei ir pro Grand Canyon, de carro (o que demora 16532891 horas), no final de semana antes da entrega (não rolou, porque voltei a sanidade a tempo). 

6. Nessa última semana também começa a fase tipo Jogos Vorazes, onde você vê os outros participantes, caindo fora, um a um. Pelo menos três amigos meus desistiram de entregar a tese, porque viram que, simplesmente, era impossível terminar a tempo. 

7. A melhor fase: Você acaba a tempo. E entrega. E quando isso acontece, a sensação é indescritível. Sabe quando você quer muito pegar uma pessoa? Aquela pessoa que você quer há muito tempo.. E daí você pega e pensa "nossa, vitória". Eh isso. Só que 10 mil vezes melhor. Na primeira noite que estava livre da tese, fiquei tão relax que assisti três horas de vídeos toscos no YouTube. Na segunda noite, eu saí pra beber. Na terceira noite, eu saí pra beber com a Joy.  

          Nossas lições de hoje, portanto, são as seguintes: 

Nunca deixa alguém te convencer que você não pode fazer alguma coisa que você quer, nem que você não saiba explicar por que você quer fazer aquilo. Se você quer, você vai lá e faz (e termina) e não precisa se preocupar em agradar ninguém (só a sua banca da dissertação, isso é muito importante). 

Nunca desista. Nem quando você começar a ver os outros desistindo. Vai por mim, o sentimento de conseguir terminar uma coisa muito difícil vale muito mais a pena =)



semanas finais. muita vontade.



a prova que trabalho duro sempre vale a pena =)

Joy





terça-feira, 10 de março de 2015

Disconnect to connect

Opinion column published on The Collegio, March 12. Click here for the original link.


 

A few days ago I saw a father and his two baby boys sharing an interesting scene. The kids were playing happily all around him, making noises, and trying to get his attention. The father, though, had his total attention focused on his Iphone. My curiosity was stronger than me, and I found a way to get closer to see what a hell was so important in that phone: it was Candy Crush.   
Often on (more frequently that I would like) I see couples sitting on restaurants waiting for their food. Instead of talking to each other, each one of them is checking their own Instagram. It’s not rare to see entire families checking their Facebook’s news feeds. Or then, a group of friends hanging out together, each one of them staring at that bright and addicting device: posting pictures, tagging friends, reading comments, looking for likes, giving random likes, swiping out photos on Tinder (or Grindr, depending on your sexual orientation), using Snapchat to send silly selfies to a bunch of people, or connecting Facetime to talk to someone who is not there.
The fact that I’ve just realized that my mother would not understand many of the words I used in the previous paragraph is a clear sign of how the world is changing very fast (and in a very weird way). So did it take only one generation for our habits to change so drastically? Doesn’t it scare you when you think of what is coming next?
I know you have probably seen these scenes too, of people together, but not actually together because everybody is busy with this online world. But have you ever wondered why? Why do we feel we need to post a picture with hashtags before going to a party, instead of just going to the party? Why do we need to instagram our food, instead of just eating it? Why do we use our phones to make a video of the concert that we paid to watch it live?
Have you ever felt surprised when someone called you instead of texting you? Isn’t it ironic that you feel that way when your phone rings? A phone, which was specifically designed for phone calls when invented years ago.
It seems to me that all of these are symptoms of an invisible disease of a generation, who is connected all the time, and, at the same time, is the most disconnected of all.
Today, I don’t have ideas of happy solutions to propose in the last paragraph of this column. Today, instead of thinking of answers, I could only think of questions. But luckily, I might have at least been able to make you think too.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

8 things that international students have to deal with all the time

1. "You have an accent. Where are you from?". (sometimes I just say one sentence.. one WORD, and that is enough for me to hear that). So just face it. It doesn't matter how hard you try, how long you have been living in the U.S., people are always gonna say that to you. And I've tried to change to an easier answer, because when I say "Brazil", that usually means I am gonna have to hear a loooot of other questions after that, and after 2 years and a half you get kind of tired of that. So lately I've been trying to answer "Missouri", but of course, it's not working. Because of my accent. 

2. "Are you from Brazil? Oooooooh, that is soooo exciting!!" Actually, it is not, but you just agree, because it is easier that way. But for most international students, what is actually really exciting is the fact that we are living in the U.S. I guess the grass really is always greener on the other side. 

3. Your passport and your I-20 are your life. They are the only things you would think about saving in case of a a fire in your apartment, for example. (Or if a tornado was approaching. I've been there #kansaslife). If you need to leave the house with your passport, like to go to a bar, for example, you check your purse or pockets hundreds of times to see if it is still there (and you have mini heart attacks if you think you have lost it for a second - especially if your trip back home is close). 

4. You need to be prepared to answer everything about your home country, at any time. There is always that professor who is gonna ask you "and how does that work in Brazil??" and number 1. you were not paying full attention to the lecture, so you don't know what he is asking about, or 2. sometimes you just don't know how does that work in your country! I've been there in both of the situations. My advices: 1. always pay attention to class. 2. try to keep up with the news of your home country.  

5. Your language becomes a mess. You mix English words, with words of your own language. Sometimes you create new English words (and you just realize that when some American starts laughing at you), or then you create new words in your own language (and I always realize that when some Brazilian friend starts laughing at me). So in conclusion, you now suck at both languages. 

6. The weather. If you are an international student living in the Midwest, like my case, you have to adapt to Polar temperatures you have NEVER experienced before. And you would be fine with that, if it wasn't for the fact you see the local people wearing T-shirts and saying things like "yeah, it's kinda chilly". And you are freezing, even though you are wearing your biggest coat, plus scarf, hat, gloves, and leg warmers. 

7. Speaking of temperature, being an international living in the US means you need to adapt to Fahrenheits, not Celcius, miles, not kilometers, inches, not centimeters, pounds, not kilos. Thank god for cell phone converters. You also need to adapt to rules and more rules. Do not drink on the steet. Do not even carry a drink on the street (in Brazil people get wasted on the streets, aka Carnival). Do not download movies from the internet (very, very important). 

8. And to conclude, speaking of adapting, being an international students means having to adapt to all kinds of unexpected situations, besides being ready to live well with all kinds of people - even though they are really different from you and how you were raised. But during this process (you don't even need to wait for the end of it) you will see you have became a much better person, with more friends, experiences, knowledge, and, most importantly, more and more stories to tell =)