As férias da
universidade dos Estados Unidos, como no Brasil, duram três meses do verão. Suponho que deva
passar rápido, se você esta viajando por ai. No meu caso, que estou trabalhando
– e dormindo – esta passando mais devagar do que uma tartaruga sem perna. Tento
pegar o maior numero de matérias possíveis pro jornal, pra me ocupar. Se alguém
esta lendo esse jornal no verão eu não sei, mas anyway, escrever pra quase ninguém
eh uma fase que todo jornalista pega.
Alem de
entrevistar e escrever e entrevistar e escrever, eu durmo bastante. E pego sol
na piscina. Não tem piscina onde eu moro, mas tem num condomínio aqui perto. Eu
entro e finjo que sou moradora e ninguém nunca fala nada. Who cares, não tem
quase ninguém na piscina mesmo. Pois bem, eh uma vida muito boa, admito. Mas
jah faz desde o inicio de maio que estou nessa.
Comecei a
achar varias coisas diferentes pra fazer, pra sair um pouco dessa rotina. (Era
pra eu estar me preparando pras minhas aulas de francês e espanhol, mas ser
autodidata e estudar em casa nunca foi meu forte.) Nessa busca pelo o que fazer
eu jah passei uma tarde ajudando o escritorio internacional a explicar um
programa deles pros calouros que estão chegando (passei horas falando a mesma
coisa e entregando folhetinhos.) Já tentei ser conversation partner de alunos
que estão aprendendo inglês. Já virei garçonete e passei duas manhas servindo hambúrgueres
pra jogadores de futebol americano (o que me rendeu quase $60). E jah passei
uma tarde carregando pneus de bicicleta e os separando por tamanho (coisa que
nem sabia que existia) para o Don Smith.
O Don Smith
eh o morador aqui de Pittsburg que da as bikes pros estudantes internacionais.
Ele eh a pessoa mais boa que Deus jah colocou na face da Terra, e eu comecei a
ter ainda mais certeza disso nesse verão. Todas as tercas feiras, há 34 anos,
veja bem, 34 anos, o Don Smith dirige a van branca dele ateh um asilo na saída de
Pittsburg e passa duas horas cantando e conversando com os velhinhos. Ele sempre
tenta levar estudantes junto. E essa terca eu fui. Confesso que fui porque nada
tinha pra fazer, e arrastei a Bruna junto. Mas no fim, acabou sendo muito mais
legal do que a gente esperava.
Entao, numa
terca feira de 40 graus (não estou exagerando quanto a temperatura) trocamos a
piscina pela van do Don Smith e fomos com ele pro asilo. Conversando com ele no
caminho comentei que esse calor tava demais pra mim e ele respondeu “esse calor
eh uma dadiva”. Não reclamei mais de nada depois disso.
Entrar num
asilo eh sempre um choque, não importa em que pais você esta. Diferente dos
outros lugares daqui, a porta da frente era trancada. O Don disse que eh pra
evitar que os velhinhos saíssem, porque certamente eles iriam se perder se isso
acontecesse. Quando a gente chegou la eles estavam todos, tipo, uns 70
velhinhos, sentados nas suas cadeiras de roda nos esperando. A nossa primeira reação
foi tipo UOU. Não sei se eh porque eu estou desde janeiro passando meus dias com
gente de 20 e poucos anos, ou se eu não estava esperando ver tantos velhinhos
no mesmo lugar. Mas a primeira impressão foi um choque.
O segundo
choque veio quando a gente viu que uma das enfermeiras era uma guria que a
gente sempre ve no bar daqui dançando ateh o chão, com cabelão, maquiagem,
vestido curto, saltao e tatuagem na coxa. A tatuagem sempre nos levou a crer
que ela era stripper. E foi bem desconfortável quando a gente viu ela la, de
roupa de hospital, cuidando dos velhinhos (nunca mais vou tentar adivinhar a profissão
de alguém por causa das roupas ou das tatuagens).
O Don começou
a se preparar pra cantar pros velhinhos e o que a gente tinha que fazer,
basicamente, era entregar os livros com as letras das musicas pra eles e dar um
oi, pedir como estavam, essas coisas. Depois, a gente tinha que ter certeza que
eles estavam na pagina certa de cada musica (a maioria não conseguia encontrar
a pagina e isso começou a ser muito triste depois de um tempo. Porra, que que
tanto as pessoas querem viver ateh os 100 anos, se eh pra chegar numa fase onde
você não consegue mais nem identificar os números?).
Bom, eu
ajudava os velhinhos a encontrarem a pagina certa a cada musica. E falava com
alguns e ouvia eles falarem o que quisessem, mesmo que em algumas vezes não dava
pra entender muito bem. Vimos o que a Bruna caracterizou como o casal “The
Notebook”. Um velhinho de mao dada com a mulher, e ela com uma cobertinha nas
pernas. Ele falava e mudava as paginas do livro pros dois. Ela soh ficava
quieta. Ate na hora em que o Don Smith fez uma chamada, ele ergueu a mao por
ela. “O amor realmente existe. Quando um deles morrer o outro vai junto,” a
Bruna falou.
Teve uma
hora em que uma das velhinhas que estava perto de mim olhou pro lado e gritou
pra uma outra: ARE YOU ALIVE? (você esta viva?). E nessa hora eu parei de achar
aquilo triste e comecei a rir muito.
Vimos ateh
uma bandeira dos Estados Unidos num quadro que estava la desde 1912, e um par
de ingressos de um show dos Beatles de 1966, que custou $5, emoldurado em outro
quadrinho. Veja bem, como um asilo pode te fazer ver coisas que você nunca
imaginava que veria. Me fez ver como as vezes vale a pena trocar uma tarde na
piscina pra fazer uma coisa diferente. E como eu NUNCA MAIS vou mencionar a expressão
crise dos 25 anos, depois de conhecer as pessoas de 90 e poucos de ontem.
Ateh eu ir
embora em dezembro tenho um novo compromisso nas tercas feiras de tardezinha então
=)
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