domingo, 29 de julho de 2012
Sobrevivendo a pior seca desde os anos 50
Nao fazia tanto calor e tanta seca nessa parte dos Estados Unidos (o Midwest) ha meio seculo. Hoje o termometro da universidade tava marcando 113 graus F, o que sao 45 graus C. Nao tem como nao falar palavrao ao ver uma coisa dessas. Eu rezo por uma chuva, mas ela nao vem. Nunca.
Eu ainda nao entendi como nao falta agua aqui e ninguem ainda falou de racionamento. Acho que nao eh que nem em Caxias, que nao tinha de onde sair agua. Nao importa a quantos meses nao chova, ninguem fala sobre economizar agua. Sei la, tenho que lembrar de perguntar pra um americano sobre isso.
Enquanto isso, lots of free time. As aulas e meu emprego soh comecam daqui a tres semanas.
Nesse tempo pude asistir cinco temporadas inteirinhas de How I Met Your Mother. E finalmente tomei vergonha e comecei a estudar pro inicio das aulas. Me matriculei no Frances 3 e no Espanhol 3 e tenho minhas duvidas se tenho esse conhecimento. Entao fui uma tarde pra biblioteca deserta e peguei um monte de livros de "Como dizer tudo em espanhol" e outros do genero em frances. Fiz uma lista de verbos em ingles e traduzi pras duas linguas jah. Nao foi tao dificil. Lembro que semestre passado a coordenadora do frances disse que nao era pra eu me preocupar, porque os anos que eu estudei na Alianca Francesa no Brasil iam voltar na minha mente. Com o espanhol eu nao me preocupo tanto, porque penso que qualquer coisa que a professora perguntar e por acaso, eu nao souber, eh soh falar um portugues basico, que eh bem parecido. De qualquer maneira, vai ser melhor que um americano falando. Sem ofensas, mas eh que linguas nao eh o forte da maioria deles. Nem diferenciar o que eh falado em cada pais, mas deixa pra la.
Quando as aulas comecarem dia 20 eu vou estudar bastante. E espero de coracao que esse esforco mental (e financeiro, dos meus amados pais) valha a pena no futuro. E que algum jornal bom precise de uma reporter que saiba falar quatro linguas decentemente. Se tudo der errado, largo tudo e viro tradutora. Faria mais dinheiro que o jornalismo certamente.
Algumas pessoas perguntam se eu nao vou querer trabalhar aqui, mas a verdade eh que eu acho que isso nem eh possivel. Primeiro porque meu visto ja esta expirado desde maio. Nao, nao estou ilegal. Mas o consulado me deu visto pra estudar seis meses aqui, nao sei por que. O que me permite ficar dentro do pais mais seis meses eh um documento assinado pela UCS e pela PSU, minha universidade daqui, que provam que eu estou estudando. Mas nao posso nem sair dos EUA e voltar, tipo ver as Cataratas do Niagara, por exemplo, tah fora de cogitacao. Ou Tijuana.
Mesmo que o visto signifique soh permissao pra entrar no pais, as pessoas te tratam diferente quando veem que ele ta expirado. Me senti uma mexicana ilegal, quando fui procurar um emprego de garconete no verao e eles viram meu passaporte e disseram que nao sabiam se a empresa poderia me contratar se meu visto nao estava ativo. Como se eu fosse umafugitiva. Demorei meia hora pra explicar e convencer a RH que o me permite estar na America eh esse documento da universidade. Consegui o emprego. Persuasao eh tudo.
Mas voltando ao assunto do por que nao pretendo nem procurar emprego aqui. Nao vou aguentar mais tempo longe da minha familia. Sinto muita saudades dos meus pais, da minha irma, da minha vo.. dos meus primos.. Minha prima Alice vai nascer esse semestre e eu nao vou estar la!
Bom, mais cinco meses inteiros aqui e vou estar em casa. Juro que vou parar de reclamar de saudades ;) E vou aproveitar o tempo que tenho aqui, porque sei que se for que nem semestre passado, vai passar muito rapido.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
20 comidas que os Estados Unidos desconhecem (ou comidas da minha terra que eu morro de saudades)
- Rodizio de Pizza (tem buffet de pizza, com umas cinco opções, no máximo. variedade não eh o forte aqui. eh queijo, ou pepperoni, ou beef)
- Polenta
- Bauru
- Pastel (e coxinha) (e pao de queijo, obrigada, Camila)
- Coracao de galinha (ficam com cara de horrorizados quando a gente diz que come no Brasil)
- Churrasco no espeto (e picanha). Churrasco pra eles eh botar bifes de hambúrguer numa grelha. Triste. Ou então botar salsichas, o que eu acho mais triste ainda. Que porra eh essa?
- Galeto no espeto (comem frango que nem loucos, mas sempre com um molho doce ou um molho picante por cima. voce pode escolher do menos picante ao mais picante, mas, honestamente, nenhum me agrada. sera que da pra fazer essa droga sem molho algum?)
- Farofa
- Arroz, feijao, bife e ovo frito
- Catupiri (Fernando sempre dizia que a pessoa que inventasse pizza de frango com catupiri aqui ia ficar rica)
- Brigadeiro
- Quindim
- Feijoada
- Chesseburguer de Caxias (com um pao grande e decente e não esses pãezinhos redondinhos irritantes estilo Mc Donalds)
- Risoto
- Estrogonoff
- Sopa de agnoline (eu pagaria uma fortuna pela comida de uma festa de colônia. Sopa, pao, risoto, galeto e depois café com biscoito)
- Trakinas
- Uma Coca-Cola decente (não consigo beber a daqui, não tem jeito. Eh mais aguada e muito doce)
- Milho decente (toda a forma de milho aqui, em lata ou em espiga eh muito doce)
Sei la, eu
enjoei demais da comida daqui. Eh muito hambúrguer e purê de batata, jesus,
como eles comem batata. Teve uns dias nesse verão que eu passei a leite e
nesquik, porque simplesmente não tinha mais vontade de comer.
O resultado
eh que voltei aos meus 53 kg que eu tinha quando saih do Brasil. Perdi tudo
esse verão, ateh a barriguinha que eu tinha ganhado durante o semestre, quando
eu ainda gostava da comida.
Já combinei
com meus pais, quando voltar em janeiro, vou ter um mês inteirinho
gastronômico.
Tinham me
dito isso antes de eu sair de Caxias, mas eu não acreditei e achei que era
bairrismo.
Mas a nossa
comida do Sul eh a melhor que existe.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Escrevendo num jornal americano
Descobri que meu blog
ja teve mais de 4 mil visualizações. Isso deve ser muito, mas muito mais do
que o numero de pessoas que leem o jornal que eu escrevo, trabalho pelo qual
sou paga.
Mesmo assim quis
fazer um post justamente sobre isso, sobre como esta sendo a experiência de
trabalhar com jornalismo aqui. Não sobraram muitos repórteres na
nossa equipe no verão, digamos que comecamos em três ou quatro, e estamos
acabando o verão em dois, eu acho. Sei que há uns dias ateh uma fotografa tentou
fazer uma matéria pra ver como ela se saia, mas neh, meu editor não foi la
muito querido com o texto (logico, eh um
editor) e ela jurou nunca mais escrever.
Nao eh facil ser reporter, minha filha. Semana passada eu
ouvi por vários minutos que eu devo ser mais insistente com as fontes, porque
eu não consegui tirar de uma delas um numero importante. Dica do meu editor
sobre o que devo fazer no futuro: ameaçar a fonte com um “eu vou descobrir essa
informação de qualquer jeito, então eh melhor que tu me de ela de uma vez por
todas!” hahaha to aprendendo bastante.
Mas enfim, pro ultimo jornal do mês eu
acabei fazendo a maioria das historias.
Essa
quarta-feira eu passei uma hora entrevistando um professor de economia que
passou um mês no Iraque ensinando professores iraquianos. Ele tava bem perto o
dia que um carro bomba explodiu em Bagda e matou 14 pessoas. Quer dizer, eu to
trabalhando demais e nunca me senti tao sozinha na vida (porque to longe de
casa há um tempão e a maioria dos meus amigos não esta aqui) e o calor la fora
me faz querer morrer as vezes), mas penso que nunca mais vou ter uma chance de
entrevistar pessoas com esse tipo de experiência.
Procuro pensar assim. Poxa,
saih de Caxias, pra conseguir um emprego num jornal onde eu posso conhecer
pessoas que foram pro Iraque. (By the way, Estados Unidos e Oriente Medio se
matam por petroleo, mas ao mesmo tempo ficam fazendo esses programas e projetos
pra parecer que estão se dando bem. O Oriente Medio mandando centenas de
estudantes pra fazer faculdade aqui, e os Estados Unidos mandando professores
pra ensinar la. Que coisa tosca. Os alunos desses paises sofrem um bullying aqui que voces nem imaginam. Sobra ateh praqueles que nem do Oriente Medio sao, mas tem a pele marrom.)
Outra boa experiência de escrever nesse verão foi na tarde que eu sai nos 40 graus pra fazer aquela materia sobre o calor. Lembrei que um amigo meu, conhecido, na verdade, que eh de Gana, tinha postado no Facebook, "esta mais quente que na Africa". Fui entrevistar ele, e na hora de entrevista fiz questao de perguntar, "entao, esta mesmo mais quente que a Africa?". E ele confirmou. (A arte de fazer o entrevistado dizer o que voce quer ouvir). Voila, temos manchete dois dias depois:
O jornalismo nao eh lindo?
Outra materia que estou fazendo eh de um cinema antigo aqui em Pittsburg, que esta mostrando filmes ao ar livre. Entao as pessoas vao pra la, botam suas cadeirinhas e assistem o filme no telao. Essa sexta vai ser A Novica Rebelde, pouco legal?
Fui entrevistar os responsaveis
pelo cinema, me colocaram pra falar com o intern (O ESTAGIARIO), eu pensei,
fodeo. Mas nao eh que saiu melhor que eu esperava? Ele me explicou que os
filmes estao sendo mostrados la fora enquanto eles revitalizam o interior do
cinema, que nao abre as portas desde a decada de 80. Eu disse 'ah, eu nasci
nessa decada', e ele 'eu nasci soh em 90' hahaha e voila again, temos um bom
lead pra materia pelo menos: que o menino que esta ajudando a organizar os
filmes ao ar livre nao era nem nascido quando eles deixaram de ser exibidos
dentro do cinema. Entrevistar nao eh lindo?
Tenho entrevistado
Deus e o mundo, e em duas semanas vou ter fechado 12 materias. Quando tudo
terminar, nesse sábado, vou ter
tres semanas de ferias ateh voltar a trabalhar de novo. Confesso que adoro ser reporter, de verdade, mas não vejo a hora de ficar chilling na cadeira na frente de uma
piscina =D
Ainda mais porque tao dizendo que vai vir uma onda de calor! Não baixa
dos 40 há dias, então realmente não sei como isso eh possível...
sexta-feira, 6 de julho de 2012
100 graus F a mais
Achei essa
primeira foto em um dos posts desse blog, de janeiro. Seis meses depois, a foto
do mesmo termometro. Isso o que eu chamo de troca de estacoes.
11 graus negativos - Janeiro 2012 |
quinta-feira, 5 de julho de 2012
O 4 de julho mais quente das nossas vidas
Voce quase consegue sentir o calor, vai dizer que nao? (minha cor tah ALGO) |
Existem alguns momentos, talvez aqueles em que voce percebe em que esta ha tanto tempo longe do seu país, que voce comeca a procurar semelhancas, ao inves de diferencas. Eu tive um desses momentos ontem, enfiada num onibus indo pra um parque em Kansas City pra comemorar o 4 de julho, independencia dos Estados Unidos. Sim, quem liga pra independencia de um pais que nao eh teu, eu tava la porque foi meu primeiro verao nos Estados Unidos e eu queria ver os fogos. Ponto. Mas prossigam nesse texto que voces vao entender porque eu consegui encontrar semelhancas com o Brasil durante um feriado patriotico americano.
Viajamos em cinco amigos (quatro brasileiros e um paraguaio) pra uma cidade maior que Pittsburg, porque aqui a gente sabia que ia ser triste. O primeiro erro foi a gente ter chegado no parque as 4 da tarde. Porque ontem foi um dia de 40 graus e juro pra voces que aquele parque era o lugar mais quente que eu ja conheci. Sabe aqueles (raros) dias em Caxias no verao que faz tanto calor que tu tem vontade de pedir a Deus que te leve daqui da Terra? Eh, aqui no Kansas eh assim. Soh que quase todos os dias do verao. A temperatura nunca cai, e o tempo nunca vira de uma hora pra outra, ou cai uma chuvinha que nem Caxias. NUNCA. Voce acorda num dia feliz, abre a janela, SOL. No dia seguinte voce tah meio down, e neh, um tempinho fechado cairia bem, SOL again. E calor. Um calor que te faz suar como se voce fosse gordo, mesmo voce sendo magro.
Calor de 40 graus, i just can't take it anymore. |
De la ficamos mais uma hora sentados nuns bancos numa sombra, reclamando do calor como se fossemos cinco idosos. Ateh que decidimos procurar um bar. E nos achamos! O paraiso. Ficamos no bar bebendo e comendo frango frito ateh as nove da noite.
salada pra que, ne? |
Decidimos voltar pro parque. Nos e a populacao de Kansas City. Imaginem um povo, mas um povo, com cadeira de praia, coberta pra botar no chao, cooller. Todo mundo fazendo fila na rua pra pegar os onibus que levavam pro parque. A gente entrou numa fila e comecou a perceber uma galera furando e formando outras filas na nossa frente. Nisso um gordinho pai de familia comecou a brigar com o guarda que tava tentando organizar tudo. E ai, nesse momento, vendo todo mundo furar fila, tocando o foda-se pros outros, e querendo chegar logo no parque, eu me senti em casa.
Conseguimos pegar um onibus depois de muita ameaca do cara na nossa frente. Chegamos no parque uns 15 minutos antes de os fogos comecarem. Achamos um lugarzinho pra sentar, mas nao sem antes uma mulher gritar 'COM LICENCA ESSES LUGARES ESTAO OCUPADOS'. Sim, a DONA DA GRAMA, mas ok, mantivemos a paz mundial, soh mandei um laser eyes pra ela e sentamos mais pra frente. O bom de estar num lugar onde nao falam a tua lingua eh que voce pode falar alto pros seus amigos 'a loca acha que eh a dona da grama', que a pessoa nao vai entender.
Foi super legal dai. Era tipo Reveillon. Soh que sem a parte das pessoas bebadas e do 'adeeeusss anooo velhoooooo essa merda toda'. Todo mundo tava sentado na grama, na beira do rio Missouri. Do outro lado do rio sairam os fogos. E durou meia hora, foi muito divertido. A gente achava que o negocio ia ser moh patriotico e tal, com hino dos Estados Unidos, mas que nada, a galera tava la pra ver os fogos queimarem e gritar uhuuuuuuuuuu. Foi engracado.
Teve uma hora durante os fogos que eu comecei a olhar ao redor.. na minha frente tinha uns indus, ou sei la que eu, com turbante na cabeca e tudo. E do meu lado uma familia gigante com arabes e seus 'hala hala'. (Podem falar o que quiserem, pra mim, toda palavra que sai dos arabes soa como hala hala.) E na volta do parque soh mais arabes, indus, coreanos, todos com seus criaredos ao redor. Ninguem falando ingles. Nos inclusive, falando portunhol.
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